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USP cria comissão para apurar denúncias de fraude contra diretor do ICB; CNPq também encomendou relatório

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Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

(reportagem publicada no jornal impresso em 10/01/2013, com algumas informações adicionais)

A reitoria da Universidade de São Paulo (USP) informou ontem que foi criada uma “comissão de especialistas” para investigar as denúncias de fraude científica levantadas anonimamente contra o diretor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Rui Curi, e alguns de seus alunos. Os membros da comissão já foram selecionados, mas a universidade não informou quem são nem quantos são. Um relatório com o resultado da investigação deverá ser apresentado à reitoria no prazo de 60 dias.

Curi, que é diretor do ICB desde 2009 e tem mais de 500 trabalhos publicados, é acusado de publicar várias pesquisas com dados científicos incorretos e supostamente fraudados. Um dos trabalhos questionados, publicado em 2007 na revista Journal of Lipid Research (JLR), foi retratado (cancelado) pelos próprios autores no fim de dezembro, depois que as denúncias de fraude foram divulgadas no blog anônimo de um cientista americano, chamado Science Fraud.

Curi e os alunos envolvidos nas denúncias negam as acusações. “Não houve fraude e sim erros na montagem das figuras”, afirma Curi, referindo-se às imagens de proteínas em gel que eram a base experimental do trabalho e teriam sido adulteradas para influenciar os resultados.

O Estado já havia noticiado no domingo que a USP investigaria as denúncias. Segundo o pró-reitor de Pesquisa da universidade, Marco Antonio Zago, a pergunta principal que precisa ser respondida é se os erros nos trabalhos ocorreram por acidente, de forma não intencional, ou se representam uma manipulação intencional dos dados, com o intuito de influenciar os resultados das pesquisas. E, no segundo caso, quais foram as responsabilidades de cada co-autor do trabalho.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) também vai investigar o caso. Segundo o pesquisador Paulo Beirão, coordenador da Comissão de Integridade na Atividade Científica do órgão, um técnico qualificado já foi incumbido de preparar um “dossiê” sobre as denúncias, que será submetido para apreciação na próxima reunião da comissão, prevista para ocorrer no fim de fevereiro ou início de março.

“A comissão, então, fará uma recomendação à diretoria do CNPq para que tome as medidas que considerar adequadas”, afirma Beirão, destacando que qualquer decisão só se aplicará “no âmbito do próprio CNPq”. Caso seja constatada fraude, os acusados poderão ter bolsas e financiamento cortados pelo órgão.

Já a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que também financia bolsas e pesquisas de alguns dos pesquisadores envolvidos, tem como regra aguardar um posicionamento da instituição acadêmica envolvida – neste caso, a USP – antes de tomar qualquer atitude nesse tipo de situação.

No total, oito artigos de Curi e colaboradores (16 outros autores no total) foram acusados de conter dados fraudados ou “autoplagiados” (com trechos copiados de outros trabalhos do mesmo grupo) pelo Science Fraud. O conteúdo do site foi todo retirado do ar na semana passada, para evitar processos legais, mas as imagens circularam pela internet e chegaram a dirigentes da USP e do CNPq. O autor do site, Paul Brookes, disse ao Estado na semana passada que não poderia falar sobre o caso de Curi para evitar problemas legais, mas divulgou uma carta ontem explicando porque desativou o site. Ele não foi o autor “primário” das denúncias, mas divulgou no site as denúncias que recebeu de outras fontes, também anônimas.

O trabalho retratado no JLR era assinado por Curi e quatro ex-alunos de doutorado seus: Renata Gorjão, Sandro Hirabara, Thaís Lima e Maria Cury Boaventura. Destes, apenas Thaís continua na USP. Renata, Hirabara e Maria são professores da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), assim como a mulher de Curi, Tania Pithon Curi, também envolvida nas denúncias como co-autora de alguns trabalhos.

As consequências acadêmicas podem ser sérias se confirmadas as fraudes. Em 2011, um professor da USP foi exonerado e sua aluna perdeu o doutorado por terem plagiado dados científicos de outros cientistas.


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